9.23.2008

Plano de Poder

Plano de Poder

Cada vez mais lideranças religiosas protestantes estão se envolvendo com a política. Muitos com apenas a alcunha de “pastores” e outros realmente com formação teológica que justifique o título de pastores de rebanho cristão se aventuram em disputas eleitorais como candidatos ou como orientadores religiosos de pessoas que buscam o poder na política. É inegável que a associação de denominações protestantes possa interferir em um ambiente que há muitos anos era dominado por pessoas que não tinha compromissos com a igreja. Os cristãos católicos brasileiros e a igreja católica jamais aceitaram a gerência de seus sacerdotes em questões de conflito entre religião e política, partidarismo ou apoio a determinado candidato. Manter e ampliar o poder sobre o outro é o que busca aquele que se usa como instrumento de Deus contra o livre arbítrio do homem. Mas é exatamente no livre arbítrio que se encontra a justificativa para a participação da casta representativa do povo evangélico. Com o posto de dono da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) e considerado um dos maiores líderes religiosos de influência na política nacional, o bispo Edir Macedo lança às vésperas da eleição o livro de sua autoria com o título Plano de Poder – Deus, os Cristãos e a Política. No livro analisa o cientista político Roberto Romano, o bispo Macedo envia uma mensagem aos fiéis para que deixem de lado o pudor de lidar com a política. – Antes, os protestantes acentuavam a ruptura com o mundo. A política, a idéia de quanto mais abençoado o homem, mais rico ou poderoso ele era, era jogada para o católico ou para o judeu. Os evangélicos estão mudando esta idéia. Agora, Macedo diz: “Vocês já foram conquistados por Jesus, sabem como isso os consola. Mas para que o ´ Plano de Deus ` se realize, temos que deixar o pudor de mexer com a política. Assim como O Príncipe de Maquiavel se tornou bíblia para políticos de perfil centralizador, o Evangelho Segundo Edir Macedo constante em seu livro Plano de Poder – Deus, os Cristãos e a Política é a parte principal da liturgia de sua escritura para que os evangélicos não tenham pudor na política. O estreitamento de relações entre os protestantes e os políticos, produziu em Rio das Ostras três entidades de representação das denominações evangélicas: APLERO (Associação dos Pastores e Líderes Evangélicos de Rio das Ostras), Associação de Pastores Pentecostais de Rio das Ostras e recentemente o Conselho de Pastores de Rio das Ostras. Todas vão além de seus objetivos sociais, rivalizando pela aproximação e relação com o poder público e suas autoridades. O caminho para esta relação e aproximação nem sempre se fez em sentido de mão dupla, pois as entidades pouco recebem e os políticos recebem muito. De vários projetos sociais elaborados pelas entidades evangélicas, não há o conhecimento de que algum esteja em execução em parceria com o poder público. Somente eventos que atrai público como o Expo Gospel, Cruzada Evangelística e a Feira do Livro Espírita despertou o interesse do poder público e recebeu o financiamento com o dinheiro do povo. A frase “quem com porcos se mistura farelo come” é uma boa analogia para esta relação: igreja versus política. Um ambiente formado mais pela defesa dos interesses pessoais do que por interesses coletivos levam aqueles que praticam a doutrina da verdade em Deus a lidar ou praticar a mentira, a traição e a corrupção do homem. O mexer com a política sem pudor pregada pelo bispo Edir Macedo e hoje publicada em livro, levou centenas de fiéis em agosto de 2004 a reunião organizada por líderes evangélicos na Câmara Municipal de Rio das Ostras para ouvir a promessa do então candidato a Prefeito Carlos Augusto de construir um templo evangélico de 600 lugares. Não ocorreu a construção (e nem deveria ocorrer) do templo, mas há relatos de uma compensação de aproximadamente R$ 5.000,00 para cada liderança pertencente à base evangélica de apoio ao candidato a prefeito Carlos Augusto. Bem, esta relação sempre provoca ruptura de união nas comunidades evangélicas, porque nem todos são a favor de que seus líderes religiosos sejam beneficiados com cargos públicos. De repente sou eu que estou confuso por falta de uma orientação espiritual de um grande líder encarnado e deva procurar o Manoel Ferreira da Assembléia de Deus para que possa enxergar o poder de Deus nas obras do homem. Talvez Carlos Augusto é que esteja correto em ser batizado no catolicismo, ter aceitado Jesus na Assembléia, ter chutado a santa na Universal, ter contato com o espírito na mesa branca do Xangô Menino toda quarta e ter fumado cachimbo com meu tio zóinho e minha comadre Rosângela no terreiro no último sábado dia 20 e preparando o caminho pra encontrar Sabino na próxima encruzilhada. Deus que me proteja!

9.03.2008

Decisões Políticas e Políticas Públicas

Decisões Políticas e Políticas Públicas

Existem diferenças entre decisões políticas e políticas públicas. Nem toda decisão política chega a ser uma política pública. Decisão política é uma escolha dentre um leque de alternativas, já política pública, que engloba também a decisão política, pode ser entendida como sendo um nexo entre a teoria e a ação. Esta última está relacionada com questões de liberdade e igualdade, ao direito à satisfação das necessidades básicas, como emprego, educação, saúde, habitação, acesso à terra, meio ambiente, transporte etc. Em nossa vida político administrativa, que é recente, iniciada em 1993, por obrigação constitucional o primeiro governo (1993-1996) enfrentou o desafio da instalação do município de Rio das Ostras. Com muito esforço, empenho e dedicação a contribuição de todos valeu a implantação dos sistemas de serviços públicos básicos, como escolas, postos de saúde, administração e arrecadação e o sistema geral de viabilidade jurídica, o legislativo e a lei orgânica. Recém instalado o município administrou a herança herdada da cidade mãe contando com a paciência de sua população, já que os recursos eram poucos e muito ainda tinha a ser feito. O município além da falta de recursos carecia, também, de instrumento legislativo para o ordenamento urbano. Muito se teorizou na época da emancipação com as promessas dos atores políticos que dominavam importante parcela de eleitores do 3º distrito, mas nada de concreto aconteceu em relação às ações de políticas públicas. Como disse, o município administrou o que recebeu, não expandindo os serviços e menos ainda praticando ou priorizando uma decisão política dentre as tantas colocadas como alternativas. Quer dizer que apenas nasceu. O início do segundo governo (1997-2000) foi marcado pelas dificuldades que enfrentou em relação à cobrança da população que exigia o pronto restabelecimento dos serviços públicos e sua expansão. Desafiado por tenebrosos últimos 9 meses de gestão em 1996 levou o governo que iniciava a tomar decisões políticas que retornasse o município à estabilidade institucional. O legislativo composto por rancorosos e viciados membros em busca do atendimento dos interesses pessoais induziu um levante contra o executivo entre 1997 e 1998, contornado em 1999 com um pacto de mais participação dos vereadores na indicação de cargos no executivo e na paternidade de alguns e futuros projetos elaborados pelo governo. Ainda em 1999 ocorreu a explosão dos royalties, recursos que foi determinante para a reeleição do segundo governo. Daí em diante o terceiro governo (2001-2004) pôde executar a maioria das ações constante no Projeto Rio das Ostras 2000, chegando a concluir 50% do que fora prometido. Muito se construiu e investiu. A cada ano de governo mais escolas, mais postos de saúde, mais centro de atendimento aos desassistidos, mais ruas pavimentadas e muitos sonhos ainda por querer realizar. Mas, ainda faltavam decisões para a escolha dentre um leque de alternativas que produzissem ações que concretizassem a melhora significativa na prestação de serviços básicos a população. De categoria de município pobre passamos a de rico, mas não houve a decisão por priorizar determinada política pública. Foram lançados alguns modelos experimentais na saúde, na educação, na assistência social e no turismo, mas nada que virasse referência nacional de atendimento às necessidades básicas da população. É claro que estamos melhores do que quando iniciamos, mas poderíamos ter ido mais longe. Foi dado ao quarto governo (2005-2008) a chance de tomar as decisões políticas que nos colocaria como uma das melhores cidades do Brasil em qualidade de vida. Com os cofres abarrotados de dinheiro e um plano de metas de investimento em infra-estrutura e saneamento básico tínhamos todas as condições de atingir os objetivos de atender bem a população em seus anseios por liberdade e igualdade, satisfação das necessidades básicas, como emprego, educação, saúde, habitação, acesso à terra, meio ambiente, transporte etc. Mas isso não ocorreu. Não atendemos tudo que fora prometido. Não tomamos decisões políticas que priorizassem algumas das tantas alternativas em ações de política pública. Nestes últimos quatros foram reduzidas nossas expectativas, mas ainda podemos implantar, desenvolver ações que levem Rio das Ostras a ser inseridos no rol de municípios com políticas públicas consolidadas e contínuas. Devemos tomar decisões políticas debruçados em nossa agenda de ações de políticas públicas e determinar o que é prioridade, pois o futuro está logo ali.